Boletim CCBJ

A CCBJ divulga o boletim eletrônico mensal aos associados. Na edição de fevereiro, o artigo foi escrito por Yasushi Noguchi, Diretor-geral do Departamento para a América Latina e Caribe, do Ministério dos Negócios Estrangeiros no Japão. Ele analisou sobre o potencial de negócios entre o Brasil e o Japão.

Perspectivas das Relações Nipo-Brasileiras para 2024

Yasushi Noguchi

Diretor-geral do Departamento para a América Latina e Caribe, do Ministério dos Negócios Estrangeiros no Japão

Retornei de São Francisco ao Japão em setembro do ano passado, quando fui convocado para assumir o cargo de Diretor Geral do Departamento para a América Latina e Caribe do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Esta é a primeira vez que me envolvo com trabalhos ligados ao Brasil desde que terminei, em julho de 2020, a minha missão como Cônsul Geral do Japão em São Paulo, que durou cerca de três anos.

Ao voltar para o Japão após três anos, percebi a crescente importância da presença brasileira para o Japão, tanto em termos políticos quanto econômicos.

 

Uma das prioridades da diplomacia japonesa no atual cenário é manter e construir uma ordem internacional livre e aberta baseada no Estado de Direito, em cooperação com países com os quais compartilhamos os mesmos valores e princípios, já que a comunidade internacional enfrenta vários desafios, como a invasão da Ucrânia pela ssia e as tentativas da China de mudar unilateralmente o status quo pela força no Leste Asiático.

Nesse contexto, o Brasil é um país importante que compartilha com o Japão os princípios de liberdade, democracia e outros valores fundamentais como o Estado de Direito. O Brasil também é um dos líderes na América Latina e em outras economias emergentes, além de fazer parte do G20, no qual assume a Presidência Temporária este ano e deve tomar iniciativas nas discussões da comunidade internacional.

Reveladas as limitações do Conselho de Segurança da ONU após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o Japão e o Brasil se mostram importantes parceiros também nas tentativas de reforma no conselho que têm promovido juntamente com a Índia e a Alemanha, com os quais formam o G4. No ano passado, o Japão assumiu a presidência do G7 e sediou a Reunião de Cúpula de Hiroshima, quando convidou o presidente Lula para discutir várias questões da comunidade internacional, inclusive a questão da Ucrânia, em reuniões entre os chefes de Estado. A importância do Brasil se deve particularmente ao fato de possuir profundas relações com os países do Ocidente, incluindo o Japão, e também com a China e a Rússia por meio do BRICS.

No aspecto econômico, vejo que os ventos sopram a favor do Brasil. Espera-se que os negócios sejam revitalizados pelas reformas trabalhistas e previdenciárias adotadas pelo governo anterior e também pelas reformas tributárias implementadas desde que o atual governo chegou ao poder. Enquanto que o combate às mudanças climáticas se tornou uma questão importante para a comunidade internacional, um dos segmentos que têm despertado grande atenção no Brasil é o de empreendimentos que utilizam o bioetanol, que é um dos recursos que há em abundância no país.

O Brasil é tido como um país importante também na área de combustíveis de Aviação Sustentáveis (SAF). Vale ressaltar que, em meio às preocupações com os riscos de se fazer negócios na China, vem crescendo interesse dos investidores pelo Brasil assim como outras economias emergentes. Diante da crise alimentar que a comunidade internacional enfrenta atualmente, tem aumentado ainda mais a importância do Brasil como um principal fornecedor de alimentos para o Japão. Também será necessário fortalecer a cadeia de suprimentos, garantindo meios para adquirir recursos minerais brasileiros como minério de ferro e nióbio. Além disso, o Brasil possui um mercado de alto padrão atraente para os produtos agrícolas e pesqueiros japoneses, como a carne bovina wagyu, o saquê, e os produtos marinhos.

A comunidade japonesa no Brasil também está mais ativa após o fim da pandemia. Dizem até que cresceu a liderança dos jovens nikkeis em algumas comunidades, porque eles são mais aptos para organizar eventos online, que aumentaram durante a pandemia. Hoje em dia, há também brasileiros sem ascendência japonesa, mas são fluentes em idioma nipônico e interessados em divulgar a nossa cultura. Em algumas escolas de língua japonesa no Brasil, ouvi dizer que o número desses brasileiros ultrapassou o dos alunos nikkeis. Espera-se que a comunidade japonesa trabalhe em conjunto com os não-nikkeis para contribuir com a divulgação da cultura japonesa, incluindo os eventos como festivais japoneses.

 

Nesse contexto, o ano de 2024 será um marco importante para elevar as relações entre o Japão e o Brasil a novos patamares. Como o Brasil preside o G20 este ano, serão realizadas vários encontros ministeriais, incluindo a reunião dos chanceleres marcadas para fevereiro e a Cúpula do G20, programada para novembro. Também é esperada uma visita do Primeiro-Ministro do Japão ao Brasil, assim como várias outras de alto nível político, o que proporcionarão boas oportunidades para estreitar as relações bilaterais.

Já no dia 10 de janeiro, foi realizada uma conversa telefônica entre o Primeiro-Ministro Kishida e o Presidente Lula, na qual os dois  concordaram em cooperar para o sucesso do G20, em fortalecer ainda mais as relações bilaterais em diversas áreas assim como as questões ambientais e de mudança climática, e em estudar várias maneiras de fortalecer as relações econômicas, incluindo a promoção maior de comércio e investimentos. No ano passado, foi implementada a isenção de visto para brasileiros em estadias de curto prazo no Japão para facilitar a vinda deles ao nosso país para negócios e turismo. Espera-se que essa nova medida sirva como catalisador para estimular ainda mais o intercâmbio humano e para revitalizar negócios. A flexibilização dos requisitos para a entrada de nikkeis de quarta geração também é um fator favorável ao intercâmbio humano.

 

Tentaremos aproveitar os ventos favoráveis deste ano para a comemoração do 130º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Japão-Brasil em 2025. No ano que vem, o Japão sediará a Expo Osaka Kansai, da qual o Brasil participará. Outro grande evento programado no Brasil em 2025 é a COP30 em Belém, para discutir questões da área de mudanças climáticas, na qual é esperada também a cooperação nipo-brasileira.

Estamos determinados a nos esforçar ao máximo possível para aproveitar o impulso que deve ser proporcionado este ano para fortalecer ainda mais as relações nipo-brasileiras, trabalhando em conjunto com a Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil. Gostaríamos de contar com a colaboração de todos vocês novamente este ano.

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