A CCBJ envia boletim eletrônico aos associados mensalmente. O artigo de novembro foi escrito pelo novo cônsul-geral do Brasil em Tóquio, André Chermont de Lima (foto). Ele traçou os trabalhos do Consulado em relação ao empreendedorismo e educação.
Mensagem do Cônsul-Geral do Brasil em Tóquio,
Embaixador André Chermont de Lima
Esta é a primeira vez em que me dirijo aos leitores do boletim da CCBJ. Assumi recentemente o Consulado-Geral em Tóquio e o pouco tempo em que aqui estou já me permitiu ver quão empreendedora e dinâmica é a comunidade brasileira no Japão. Uma rápida visita às províncias de Gunma, Ibaraki e Saitama, por exemplo, evidencia o número de estabelecimentos comerciais e pequenas empresas pertencentes a nossos compatriotas. Esse tipo de negócio, que segundo dados não-oficiais poderia chegar a 5 mil unidades, é a face mais visível de uma rede complexa de associações empresariais e culturais, produtores rurais, ONGs, serviços de consultoria, cursos e escolas.
Acredito que a chave para o empreendedorismo exitoso esteja no investimento em nossos jovens, em sua preparação educacional, profissional, cultural, psicológica. O momento de transformação por que passa a comunidade brasileira neste país impõe novos desafios às crianças, adolescentes e recém-ingressos no mercado de trabalho: já fomos mais numerosos e mais jovens no passado, e já fomos mais “brasileiros” – hoje a necessidade de integrar-se à sociedade japonesa é mais premente e impositiva. E, à medida que a comunidade amadurece, as oportunidades que se oferecem tornam-se diferentes. Hoje está cada vez mais difícil restringir-se aos círculos isolados que se comunicam apenas em português e vivem do tradicional “mercado da saudade”.
Por outro lado, a condição inescapável da nacionalidade brasileira convida-nos a buscar com mais afinco a valorização da cultura longínqua que, aqui, se manifesta como herança. Preocupa-nos que nossas crianças e jovens cresçam desenraizados e carentes de identidade. Seus pais, em sua maioria nipo-descendentes, foram um dia estimulados a não esquecerem a cultura de seus ancestrais japoneses; hoje são elas que precisam se lembrar do que significa o Brasil no seu processo de formação intelectual e moral.
Por isso os Consulados e a Embaixada do Brasil no Japão têm dado tanta importância à rede escolar brasileira. Apenas na jurisdição do Consulado em Tóquio, são 15 instituições dedicadas ao ensino de nossos co-nacionais, 7 delas homologadas pelo MEC. Temos empreendido esforços para assegurar-lhes uma educação de qualidade, bilíngue, em ambiente saudável, capaz de abrir portas para a profissão que mais lhes atraia – seja no Japão ou no Brasil. Também desejamos estimular a “brasilidade” desses futuros profissionais por meio de concursos: em 2022 e 2023, o Consulado organizou cinco diferentes certames, incluindo as “Olimpíadas do Português como Língua de Herança”, o “Campeonato de Língua Portuguesa”, um concurso de fotografia e o “Burajiru Gran Chef”, com um total, até agora, de 650 inscritos, a maioria alunos e estudantes de escolas brasileiras. Desejamos aumentar sua abrangência no ano que vem.
A prioridade dada à formação educacional e cultural dos mais jovens não seria possível sem a estreita colaboração com ONGs e associações capitaneadas por dedicados membros da comunidade, como o SABJA (Serviço de Assistência aos Brasileiros no Japão), o ABC Japan e a Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), para citar apenas três louváveis exemplos entre muitos outros.
Tal dimensão, menos conhecida, do dia-a-dia do Consulado-Geral em Tóquio – cuja jurisdição engloba 17 províncias onde vive contingente de cerca de 60 mil nacionais – soma-se àquelas que constituem o “DNA” da atividade consular: os serviços de natureza cartorial e a assistência aos nossos nacionais. Demandas e desafios não faltam, portanto. Desejo que a energia e o dinamismo do empreendedor brasileiro no Japão sejam transmitidos às novas gerações – e para isso contem sempre com o apoio incansável do Consulado.