A CCBJ envia mensalmente boletim eletrônico aos associados. Na edição de março, o artigo foi escrito por Kojiro Takeshita, professor do Departamento de Estudos Internacionais da Universidade Takushoku. Ele faz uma análise sobre nova forma de intercâmbio entre o Brasil e o Japão pelo setor de inovação.
Qual será a nova forma de intercâmbio na área de inovação entre Japão e Brasil?
Kojiro Takeshita, professor do Departamento de Estudos Internacionais da Universidade Takushoku (ex-diretor da Divisão de Pesquisa Latino-americano e Caribenho da JETRO)
Inovação social
Para o crescimento sustentável e estável do Brasil, que tem uma economia altamente suscetível às oscilações dos preços de recursos, é imprescindível promover a inovação. Alguns especialistas defendem a importância de desenvolver inovações originais, alegando que boa parte das tecnologias do Brasil é importada.
Ultimamente, porém, há uma tendência mundial que valoriza a inovação social mais do que as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Para compreender melhor essas mudanças de visão em nível nacional, vale lembrar o trabalho da equipe do professor Johan Schot, do Science Policy Research Unit (SPRU) da Universidade de Sussex, que classificou o conceito da inovação em ordem cronológica, que são: 1) inovação para crescimento; 2) sistemas nacionais de inovação; e 3) inovação transformadora. A inovação para crescimento visa comercializar as descobertas científicas, enquanto os sistemas nacionais de inovação têm como objetivo a geração de inovação por meio de cooperação entre os setores público, privado e acadêmico. Já a inovação transformadora é vista como a próxima tendência principal. Desde que a ONU lançou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), é possível perceber que a inovação passou a ser vista mais como um meio para realizar mudanças que a sociedade necessita.
A última versão da Política Nacional de Inovação do Brasil foi instituída pelo Decreto Federal nº 10.534, publicado no dia 28 de outubro de 2020, que inclui vários itens referentes ao modelo 3, ou seja, a inovação para solucionar problemas sociais. A política japonesa, lançada no dia 17 de julho de 2020, por sua vez, se enquadra no modelo 1, que é caracterizado pela valorização da tecnologia subjacente.
Se uma tecnologia subjacente desenvolvida no Japão for inserida num sistema fundamental para um novo modelo de negócios no Brasil e servir para solução de problemas sociais, isso gerará uma relação ganha-ganha. Além disso, se esse modelo de negócios for aplicado também para outros países da América Latina que enfrentam problemas semelhantes, a parceria nipo-brasileira na área de inovação trará mais méritos tanto para o Japão quanto para o Brasil.
Startups: atores responsáveis pela geração de inovação dos sistemas
No cenário em que a inovação social ganha cada vez maior importância, as startups têm se destacado como atores responsáveis pela geração e difusão das soluções inovadoras. Diferentemente dos órgãos sem fins lucrativos, que também atuam para solucionar problemas sociais, as startups, na medida em que crescerem, podem ampliar os empreendimentos e investir os lucros na geração de empregos, e contribuir pagando mais impostos. Nesse sentido, elas representam algo valioso para o governo brasileiro, que enfrenta problema de dívida pública e dificuldade de geração de oportunidades de negócios.
O governo brasileiro tem investido nas ações que visam promoção das startups nos últimos 10 anos. Em dezembro de 2020, havia 45 programas de apoio direcionados a essas empresas. A digitalização dos serviços públicos, que o governo tem promovido, também é um fator positivo para o crescimento das startups. Até dezembro de 2020, mais de 80 milhões de brasileiros já haviam se cadastrado no portal de serviços digitais.
Hoje, há mais de 13 mil startups em todo o Brasil, incluindo 11 unicórnios (denominação dada às startups que ultrapassam a casa de US$ 1 bilhão em valor de mercado). Alguns desses unicórnios contam com a participação do fundo de inovação da Softbank.
Para ampliar ainda mais o intercâmbio nipo-brasileiro na área da inovação, será necessário investir mais no fator “cocriação”, promovendo, por exemplo, a inserção da tecnologia subjacente de origem japonesa em sistema de negócios das empresas e startups brasileiras.
Nesse contexto, a Jetro já lançou o serviço de apoio para entrada de startups japonesas no mercado brasileiro em 2020, assim como a JICA e o Ministério da Agricultura do Japão, que também têm tomado iniciativas para oferecer suporte às startups. Essas ações têm importância para ampliar a base das oportunidades de intercâmbios na área de inovação. Eu, particularmente, espero ver mais casos de cocriação entre startups japonesas e brasileiras, em vez das iniciativas para promover simplesmente a transferência de modelos de negócios desenvolvidos pelas empresas nipônicas japonesas no mercado brasileiro.