A CCBJ envia regularmente boletim eletrônico aos associados. Na edição de maio, o artigo foi escrito por Masahiro Ito, Business Planning Research Section do JBIC (Japan Bank for International Cooperation). Ele escreveu sobre investimento direto no Brasil sob a perspectiva de empresas japonesas.
Resultado da 36ª Pesquisa sobre Investimentos Estrangeiros Diretos da Indústria Japonesa em 2024
Por Masahiro Ito
Business Planning Research Section
JBIC (Japan Bank for International Cooperation)
- Introdução
O Japan Bank for International Cooperation (JBIC) apresentou em dezembro do ano passado o relatório da pesquisa sobre atividades comerciais das empresas japonesas do setor manufatureiro no exterior (do ano fiscal 2024). Esta foi a 36ª edição do levantamento realizado anualmente desde 1989. Um dos destaques da pesquisa é o ranking de países mais promissores a médio prazo (próximos três anos), baseado na votação feita por empresas japonesas. A novidade nessa última edição é que a China caiu três posições, saindo da terceira colocação conquistada no levantamento anterior, para a sexta, enquanto que a Índia se manteve no topo da lista pela terceira vez consecutiva. Entre os países latino-americanos, o Brasil conseguiu a melhor colocação, ocupando a 11ª posição, seguido pelo Chile (27ºlugar), Argentina, Peru, e Paraguai (todos empatados em 37º lugar).
Devido a fatores geográficos e outros motivos, as empresas japonesas tendem a considerar os países sul-americanos menos familiarizados em comparação com os EUA e os vizinhos asiáticos, o que acaba restringindo o número de companhias nipônicas interessadas em investir nesses mercados como um destino promissor para o desenvolvimento de negócios. O Brasil, no entanto, obteve uma porcentagem comparável de votos à da Alemanha (11ª posição), e vale lembrar que o país subiu do 10º lugar para o 8º no ranking de países promissores a longo prazo (próximos dez anos), superando a Malásia e as Filipinas (gráfico 2). Os outros nove países que ficaram entre os dez primeiros colocados têm acesso mais fácil com vôos diretos do Japão.
Na época em que eu trabalhava no escritório nos Estados Unidos, viajava frequentemente à América Latina onde via muitas empresas japonesas batalhando para se destacar no mercado local. Por ter essa experiência, gostaria que mais empresas japonesas se interessassem pelo continente sul-americano, fortalecendo assim os laços econômicos entre o Japão e a América Latina. Abaixo, seguem alguns dos principais pontos dessa pesquisa, com foco nos tópicos que envolvem o Brasil, que celebra este ano o 130º aniversário de amizade com o Japão, que recebeu recentemente a visita de Estado do Presidente Lula.
- Postura para negócios internacionais a médio prazo
Anualmente, questionamos por meio dessa pesquisa a postura das empresas em relação às operações no exterior nos próximos três anos(“pretende fortalecer e expandir”, “pretende manter o status quo” ou “pretende reduzir e retirar”). Na última pesquisa, 62,0% (queda de 5,7% em relação ao ano anterior) das empresas japonesas responderam que pretendem “fortalecer ou expandir” suas operações no exterior, registrando a primeira queda desde a pandemia que começou em 2020.
A desaceleração do crescimento da demanda global, particularmente na Ásia, combinada com o impacto da desvalorização histórica do iene ocorrida no ano passado, deve ter levado muitas empresas japonesas a adotarem políticas mais cautelosas quanto à expansão de negócios no exterior. No entanto, o fato de mais de 60% das empresas ainda estarem dispostas a fortalecer e expandir suas operações no exterior, embora essa parcela seja menor em relação ao ano passado, mostra que ainda é forte o interesse das companhias japonesas pelos negócios no exterior.
Para as empresas que pretendem “fortalecer ou expandir” suas operações no exterior, perguntamos também os potenciais destinos de seus investimentos. O resultado visualizado no gráfico 3 mostra que há uma parcela de empresas nipônicas de pequeno, médio e grande porte, interessadas em ampliar seus negócios no Brasil, embora seja menor o número dessas companhias, em comparação com aquelas que citaram os EUA e os países da Europa e da Ásia. Os principais ramos de atividade das empresas interessadas no mercado brasileiro eram os setores químico, de maquinário industrial em geral e de eletroeletrônicos. Vale a pena lembrar que cerca de 30% dessas empresas responderam também que pretendem ampliar seus empreendimentos no Chile, indicando que existe certo número de companhias nipônicas interessadas em fortalecer os negócios em mais de um país na América Latina.
- Ranking de países promissores
Conforme mencionado acima, o Brasil ficou em 11º lugar no ranking de países promissores a médio prazo, e em 8º lugar no ranking de países promissores a longo prazo. Agora, vamos analisar mais detalhadamente as características dos setores interessados no mercado brasileiro.
Os setores que consideram o Brasil como um destino promissor para o desenvolvimento de negócios são, em geral, aqueles que pretendem “fortalecer ou expandir” suas operações no país, com destaque para as empresas dos setores químico, de máquinas em geral (incluindo os ramos relacionados à indústria automobilística) e de eletroeletrônicos. O setor químico, especificamente, demonstrou expectativas quanto à expansão da produção agrícola e da demanda por agrotóxicos em função da produção de bioetanol, além da produção em grande escala de petróleo e gás natural. E essas expectativas poderão aumentar ainda mais sob o comando do atual governo, que vem promovendo ações ambientais como país anfitrião da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada este ano.
Além disso, algumas empresas dos setores alimentícios consideraram o Brasil como um destino promissor para o desenvolvimento de negócios, tendo em vista o tamanho da população brasileira (mais de 200 milhões de habitantes) e da sul-americana (mais de 400 milhões de habitantes). Os países populosos, assim como a Índia e a China, naturalmente, têm alta demanda por alimentos, o que tende a aumentar as expectativas dos setores alimetícios. Outra característica interessante é a alta expectativa com o setor de artigos esportivos, que se deve à fama do Brasil de ser um país do futebol.
- Conclusão
Diante das incertezas em torno das políticas tarifárias e outras questões envolvendo o governo norte-americano que têm afetado o mundo inteiro, podem surgir situações em que empresas japonesas sejam forçadas a ser mais cautelosas com seus negócios no exterior. E a confusão causada pelos EUA poderá afastar empresas nipônicas do mercado norte-americano, levando-as a voltar a atenção para outras regiões como a América Latina (algumas empresas já estão estudando a possibilidade de transferir o destino dos produtos feitos no México para outros países, deixando o mercado norte-americano, a fim de evitar tarifas). O Japão mantém amizade ao longo de 130 anos com o Brasil, que é um dos principais países do Sul Global. Ficaremos muito felizes se as relações nipobrasileiras pudessem ser aprofundadas não apenas na área diplomática mas também no aspectos econômicos.