A CCBJ envia mensalmente boletim eletrônico aos associados. Na edição de dezembro, o artigo foi escrito ex-presidente da Sony no Brasil e Sony Manufacturing Company, nos Estados Unidos, Masayoshi Morimoto.
Ele faz um alerta em relação ao perfil dos jovens japoneses. E faz uma comparação com os jovens nikkeis.
Conexão Bunkyo Japão
A Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, conhecida como Bunkyo, realizou o evento denominado “Conexão Bunkyo Japão”, em Tóquio. Na oportunidade, o diretor-executivo do Kaigai Nikkeijin Kyokai e membro do conselho consultivo do Bunkyo, Masayoshi Morimoto, concedeu entrevista a respeito do seguinte tema: Diferenças entre a juventude japonesa e a juventude nikkei brasileira.
Ele foi diretor-presidente da Sony no Brasil e Sony Manufacturing Company, nos Estados Unidos. A entrevista foi conduzida pelo vice-presidente do Bunkyo, Oston Hirano. O evento foi no dia 13 de outubro.
- Qual a principal característica dos jovens nikkeis brasileiros?
Há dois aspectos que se destacam imediatamente quando são comparados aos jovens japoneses. Primeiro, os nikkeis têm suas próprias opiniões sobre tudo, falam e tratam os outros com igualdade, independentemente da diferença de idade e status. No Japão, as pessoas, especialmente os homens, estão sempre preocupados com as diferenças de idade e status social. Há momentos em que você precisa usar uma linguagem honorífica em japonês.
Em segundo, os brasileiros em geral, valorizam a diversidade, mas os japoneses sempre tentam se comportar como todos os outros. Os pais dizem aos filhos para estudarem como todos os outros alunos da classe. Em termos extremos, os japoneses sentem vergonha de serem diferentes dos outros.
Morei no Brasil por 10 anos, mas antes disso, trabalhei em Califórnia, nos Estados Unidos por 15 anos.
Quando seus avôs imigraram para o Brasil, muitos japoneses também imigraram para os Estados Unidos. Os jovens nikkeis nascidos nos Estados Unidos são cidadãos americanos legalmente e eu observei que eles tentaram adquirir valores que a sociedade norte-americana aprecia e almeja: ser forte senso de independência, auto-afirmação clara e busca da justiça, assim como os descendentes de imigrantes de outro países. A cultura ancestral não foi importante para eles. Eles não querem estar perto do Japão ou de empresas japonesas.
Já os nikkeis brasileiros não são assim. Alguns anos atrás, o grupo Kakehashi, um projeto formado por muitos jovens do Bunkyo identificaram “Oito Valores” como identidade dos nikkeis brasileiros na sociedade brasileira: Perseverança, Coletividade, Gratidão, Gentileza, Respeito, Responsabilidade, Aprendizado e Integridade.
Gostaria de falar sobre as recentes mudanças nas características dos jovens no Japão.
A)Eles têm pouco interesse no seu próprio país, Japão. No Japão, a participação eleitoral nas eleições nacionais diminui de ano para ano. Votar nas eleições não é obrigatório no Japão. A participação entre os jovens é particularmente baixa. Há dois anos, na eleição para a Câmara dos Conselheiros, 66% das pessoas na faixa etária dos 60 anos votaram, mas só 33% das pessoas na faixa de 20 anos votaram.
B)Muitos jovens no Japão estão deprimidos. As empresas japonesas contratam recém-formados em massa em abril de cada ano com a expectativa de que permaneçam na empresa por muitos anos (como adicionar novos membros ao clube social), em vez de contratar recursos humanos adequados para o trabalho, como acontece no Brasil e nos Estados Unidos. No Japão, a proteção dos trabalhadores é completa. A menos que você cause danos significativos à empresa devido a dolo ou negligência grave, você não será demitido. Promoções e aumentos de salário dependem mais dos anos de serviço do que do desempenho ou capacidade.
Devido a este tipo de emprego, as relações interpessoais no local de trabalho são muito importantes. Recentemente, tem havido um aumento da pressão no trabalho devido ao conceito DX, ou a transformação digital e o tratamento adequado às mulheres. Mas, os jovens estão menos flexíveis a essas pressões e caem facilmente em depressão ou acabam tendo dificuldades de adaptação. Na minha opinião o jovem japonês não tem perseverança, que é um dos oito valores dos jovens nikkeis brasileiros.
2) Como se formou a cultura da sociedade japonesa? Por que os japoneses sempre tentam se comportar como todos os outros? Por que eles sentem vergonha de serem diferentes dos outros?
Na cultura japonesa, a ênfase demasiada na coletividade e a falta de tolerância perante a diversidade têm raiz no cultivo de arroz, no arrozal irrigado. Até o fim do século 19, o arroz foi mais do que um alimento. Era a base do governo e da economia por vários séculos. Nos passos do cultivo de arroz, incluem: planejamento, construção, e manutenção da irrigação, plantação e colheita de arroz.
Antes da mecanização que aconteceu apenas algumas décadas atrás, o cultivo de arroz exigia o acordo e a colaboração de todos os envolvidos na aldeia por vários séculos. Todos foram obrigados a pensar da mesma maneira e trabalhar no mesmo ritmo. Não havia espaço para aceitar a diversidade. Tiveram que se comportar como todos os outros. Se não, o relacionamento teria terminado.
Este tipo de comportamento ajudou, no final do século 20, a produção em massa estável e repetitiva de equipamentos eletrônicos e automóveis em um ambiente de poucas mudanças. Como resultado, o PIB do Japão ocupou o segundo lugar no mundo. Mas, agora, precisamos as diversidades nos recursos humanos e dos incentivos para promover digitalização e inovação.
3)Algum conselho para os jovens nikkei-brasileiros no Japão?
Primeiro, os nikkeis brasileiros que vivem no Japão devem dominar a língua japonesa. É absolutamente necessário ter concluído o ensino médio (koutougakkou).
Depois de terminar o ensino médio, você pode ir para a universidade, mas também deve considerar o ingresso em instituições de formação profissional existentes em cada província(College of Industrial Technology e outros). As mensalidades são baixas e facilita na procura de um emprego.
Eu desejo que os nikkeis brasileiros residentes no Japão tenham orgulho de sua cultura brasileira e, ao mesmo tempo, da cultura japonesa. Ou seja, gostaria de pedir a todos que mantenham sua identidade como nikkei brasileiro: Os “Oito valores” que mencionei.
Eu gostaria de adicionar mais um valor de vocês, que é a diversidade, o que os Brasileiros têm, mas, os Japoneses não têm.
Muito obrigado.
Feliz 2025!!