A Câmara de Comércio Brasileira no Japão envia boletim eletrônico aos associados. Na última edição, o artigo foi escrito por Yoshihisa Ogawa, CEO presidente da Kanwajuku BrAsia. Ele escreveu sobre o forte vínculo entre o Brasil e o Japão.
Japoneses devem conhecer melhor a comunidade nipônica no Brasil, um país distante mas próximo
Yoshihisa Ogawa, CEO presidente da Kanwajuku BrAsia
Muito prazer! Aos leitores que não me conhecem, gostaria de contar brevemente a minha trajetória profissional. Eu ingressei no curso de português da Universidade de Estudos Estrangeiros de Osaka (atual Universidade de Osaka), em 1987. Infelizmente, naquela época, não cheguei a conhecer o Brasil e usar a língua portuguesa enquanto estudava e nem depois de me formar, até que surgiu a chance de viajar ao outro lado do mundo pela primeira vez, há sete anos. Desde então, já fui 13 vezes ao Brasil, em sua maioria, viagem a trabalho, mas também para participar de eventos musicais, conhecendo várias partes do País.
Há seis anos, os laços criados através dos negócios me trouxeram um convite para me apresentar no Festival do Japão, em Porto Alegre. No evento realizado na capital gaúcha, com ambiente organizado e caracterizado pela presença de descendentes de alemães, fiquei impressionado com a performance calorosa dos jovens representantes da comunidade nipo-brasileira local. Foi uma surpresa descobrir que as tradições japonesas, por meio do quimono, dos instrumentos musicais como taiko (tambor) e koto (harpa), e das artes como shodo (caligrafia), são preservadas e herdadas entre os descendentes no outro lado do mundo, fazendo sucesso também entre o público brasileiro.
Meu conhecimento sobre a história do Brasil era muito limitado, mas na minha terceira visita ao País, me hospedei na casa de uma família nikkei, onde tive oportunidade de conhecer uma senhora que imigrou para o Amazonas aos 13 anos. Durante dez dias de estadia, pude conhecer um pouco da história do Brasil através dessa senhora, que me contava suas experiências na hora do jantar. Apesar das dificuldades inimagináveis vividas, ela contava esses relatos com sorriso no rosto. “Sempre lutei, olhando para frente”, dizia ela. Eu me inspirei nas histórias da senhora para compor as canções “Hyaku to Juunen no Wadahi” e “Kono Chi ni Maiorita no wa”, em homenagem aos imigrantes japoneses, e cantei-as no palco do Nihon Matsuri onde fica. No ano passado, participei do festival realizado em São Paulo e em várias parte do Amazonas, para apresentar essas canções.
Para muitos japoneses, as primeiras coisas que vêm à cabeça quando se fala do Brasil são café, futebol, Amazônia, samba, etc. Para eles, é um País distante em todos os sentidos, não só geograficamente. São poucos os japoneses que sabem que lá há uma comunidade que preserva a tradição japonesa (mais japonesa do que aqui em alguns aspectos), há 112 anos.
O nosso trabalho é de oferecer curso de idioma para funcionários de grandes empresas nipônicas antes de serem transferidos ao Brasil. Esses profissionais, assim como seus familiares que os acompanham, acabam criando contatos fortes com o Brasil, porém, não com a comunidade nipo-brasileira, pelo que percebi. Não podemos generalizar, claro, mas a meu ver, os festivais do Japão realizados pelas comunidades nipo-brasileiras mereciam receber mais apoio e colaboração não apenas do governo japonês, mas também das empresas nipônicas com atuação no Brasil. Entendo a dificuldade que os executivos japoneses têm para criar laços com a comunidade nipo-brasileira, devido a curto espaço de tempo que eles costumam viver no Brasil, que varia de 3 a 5 anos em média. Mas a construção de uma boa rede de contatos com a comunidade japonesa no Brasil é valiosa tanto para recrutamento de empregados locais e quanto para ter sucesso nas vendas.
A comunidade nipo-brasileira passa por um processo de renovação, com envelhecimento dos imigrantes. E o número de descendentes que falam japonês vem diminuindo, principalmente entre os mais jovens da quarta e da quinta gerações, mas eles ainda possuem laços sanguíneos com o Japão apesar de serem cidadãos completamente integrados na sociedade local. Espero que esses jovens possam construir uma nova comunidade nipo-brasileira, envolvendo os jovens profissionais japoneses enviados para trabalhar no Brasil e até os brasileiros sem ascendência nipônica. Para que isso aconteça, os japoneses devem aprender a língua portuguesa e os brasileiros, o japonês, já que o conhecimento de idiomas ainda tem grande importância para superar as diferenças de raça e geração, apesar do avanço dos aplicativos de tradução no mundo atual. Estamos passando por um momento de muita incerteza sobre o futuro, mas quando a situação se acalmar, pretendo voltar ao Brasil o mais rápido possível para acompanhar o desenrolar do processo.