Boletim CCBJ

A CCBJ envia regularmente boletim eletrônico para os associados. O artigo da edição de abril foi uma entrevista que a Kyodai fez com o associado da CCBJ, advogado e professor doutor Masato Ninomiya. 

Ninomiya foi condecorado pelo governo japonês com a Ordem do Tesouro Sagrado e Raios de Ouro.

 

Professor Doutor Masato Ninomiya recebe Condecoração da Ordem do Tesouro Sagrado e Raios de Ouro

 

            O professor doutor e advogado Masato Ninomiya recebeu a mais honrosa condecoração dada a um civil pelo Governo Japonês, a Ordem do Tesouro Sagrado e Raios de Ouro (瑞宝中綬章 – zuihouchuujushou). A cerimônia aconteceu em fevereiro. Para saber mais detalhes sobre essa homenagem, a Kyodai Remittance fez uma entrevista com Ninomiya no dia 23 de março. Participaram da entrevista o presidente da Kyodai, Yuichiro Kimoto, a diretora Kashiko Kimoto e o gerente de marketing Antonio Hayata.

            A cerimônia aconteceu com 3 anos de atraso por causa da pandemia, no dia 8 de fevereiro de 2023, no Hotel Imperial, em Tóquio. O evento contou com mais de 350 pessoas, com a presença de ilustres personalidades do mundo político, da diplomacia, acadêmica e empresários daqui do Japão, bem como vários representantes da comunidade nikkei.

           Nascido em 17 de novembro de 1948, na cidade de Ueda na Prefeitura de Nagano, Ninomiya imigrou para o Brasil com a família aos 5 anos de idade. Estudou e se graduou em escolas brasileiras, se formando em direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da Universidade de São Paulo, em 1971. Devido a força de seus pais em manter a língua japonesa, conseguiu logo uma bolsa de estudos para a Universidade de Tokyo, onde concluiu o Mestrado (1976) e o Doutorado (1981) ao longo de 10 anos.

           Se dividindo entre a vida acadêmica em várias universidades, de profissional de Direito, além de ser membro atuante em várias instituições nikkeis do Brasil e do Japão, foi conquistando o respeito e a credibilidade ao longo da sua trajetória. Cabe deixar registrado que entre papéis destaques, galgando sua trajetória profissional como o mais respeitado tradutor nos idiomas português e japonês, um grande historiador da história das relações bilaterais entre o Brasil e o Japão, tem um papel de destaque na fortificação e estreitamento das relações bilaterais entre ambos os países, a quem diga entre a comunidade nikkei em geral com o Japão.

Kyodai: Como ocorreu esta indicação para esta condecoração?

 Masato Ninomiya: Foi com uma enorme surpresa e me senti bastante honrado em receber esta indicação das 5 grandes instituições nikkeis no Brasil, o Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Socia), o Enkyo (Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo), Aliança Cultural Brasil-Japão, Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil e Kenren (Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil).

       É algo bastante raro para alguém que havia completado 70 anos sendo que o mais comum seria para pessoas na faixa de idade entre 75 e 80 anos. E também por existirem pessoas muito mais merecedoras do que eu. Esta condecoração tem um ranking de 6 categorias, sendo o que recebi foi da categoria intermediária, o 3º ranking. Dentro da comunidade nikkei do Brasil, são muito poucos que receberam esta condecoração nesta categoria como Kazuo Watanabe, Tuyoshi Ohara, Kiyoshi Harada entre outros. Para se ter uma ideia da importância desta condecoração, junto comigo no mesmo ano por exemplo, os Embaixadores do Japão na Argentina, na Bolívia e na Venezuela.

 Kyodai: O senhor se posiciona modestamente, mas nós sentimos orgulhoso que nikkeis brasileiros recebam tamanha honraria e reconhecimento do Governo Japonês.

Ninomiya:      Para mim é uma grande honra. Mas seria muito mais significativo se pudesse ter ganho enquanto meus pais estivessem vivos. Meu pai serviu na guerra e sobreviveu. Foi condecorado na categoria mais baixa e ficou extremamente contente. E fico imaginando como meu pai ficaria contente em ver o filho ser condecorado com algo de tanta relevância.

Kyodai: Como são escolhidas as pessoas a serem condecoradas?

 Ninomiya:      Existem muitas pessoas que também merecem esta condecoração. Mas depende muito de como o Governo Japonês vê a atuação de cada um. Existe uma comissão o Shokunkyoku (賞勲局) no Japão que votam nas indicações que são apresentadas, não havendo nenhuma ingerência das Embaixada ou do Consulado. Embora, sejam eles que vêm de perto a atuação de cada um dos indicados, cabendo somente um papel de recomendar.

           Normalmente, pessoas exercendo as atividades governamentais e pessoas notáveis acabam recebendo as condecorações de categorias mais elevadas. Como por exemplo, para o Grande Cordão da Ordem do Tesouro Sagrado (瑞宝大綬章 – zuihoudaijuushou), como o Reitor da Universidade de Tokyo ou o Embaixador do Japão nos Estados Unidos etc. e também a Ordem do Tesouro Sagrado, Ouro e Estrela de Prata (瑞宝重光章 – zuihoujukoshou) que foi entregue ao Dr. Massami Uyeda, ex Ministro do STJ, sendo o nikkei que recebeu a maior condecoração até hoje. Ou seja, não é qualquer pessoa que consegue se condecorado.

           As divulgações ocorrem 2 vezes por ano, na primavera e outono. A próxima será dia 29 de abril, provavelmente outras pessoas ligadas à órgãos governamentais são as mais condecoradas, seja do Governo Brasileiro ou alguém das Cortes Superiores da Justiça.

Kyodai: Na cerimônia estiveram diversas pessoas da comunidade acadêmica japonesas, diplomatas, políticos e empresários. E alguns representantes da comunidade brasileira daqui do Japão.

Ninomiya:   Tivemos a honra de ter como presentes, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, Yoshimasa Hayashi; a Governadora de Tokyo, Yuriko Koike e a Deputada Yuko Obuchi.

           Dentre os presentes brasileiros, tivemos a presença de diversas pessoas, como da Embaixada do Brasil, o Cônsul-Geral do Brasil em Tóquio, Guilherme Patriota; da Câmara de Comércio Brasil-Japão, Arthur Muranaga, Walter Saito e Shinji Mogi e o Professor Angelo Ishi, da Universidade Musashi entre outros.

Kyodai: Recentemente, o senhor também foi condecorado pelo Governo Brasileiro com a Ordem do Rio Branco na categoria de Comendador. Parabéns!

 Ninomiya:      Sim, essa é a minha terceira vez, só que em categorias diferentes e por trabalhos diferentes. A primeira foi em 1989, pelo meu trabalho de intérprete com a Ordem do Rio Branco na categoria de Cavaleiro. Para a Ordem do Rio Branco, existe um ranking de 5 categorias, sendo que a de Cavaleiro é a mais baixa. Em 1999, recebi na categoria de Oficial pelo meu trabalho como professor universitário e agora depois de mais de 20 anos, como presidente do CIATE também fui agraciado com esta condecoração de Comendador.

            Dentro da comunidade nikkei, teve bastante repercussão, pois normalmente, as pessoas somente recebem uma vez esta condecoração, mas no meu caso é a terceira vez, claro que por motivos diferentes. Mas igualmente contente por todas elas.

 Kyodai: Acredito que a sua atuação nas relações bilaterais entre o Brasil e o Japão é o maior das provas para um merecedor destas condecorações.

 Ninomiya:      Acredito que sim. Digo que estou nesta condição por ter estudado no Brasil em escolas públicas, desde o primário até a faculdade e depois de formado, tive a oportunidade de vir ao Japão para fazer minha pós graduação com as bolsas de estudos dadas pelo Governo Japonês.

            Embora, demorei 10 anos para até concluir minha tese de doutorado, a bolsa contemplava 6 anos e meio. E o restante dos 3 anos e meio, foi graças ao meu trabalho de arubaito de tradutor e intérprete.

           Se combinar as bolsas que minha esposa, meus 2 irmãos e recentemente meu filho tiveram do Japão, podemos considerar que somando daria perto de 30 anos. Em consideração a essa benesse do Japão, entendi que uma forma de retribuição foi de cuidar ajudando de 30 estudantes japoneses com pagamentos de 3 salários mínimos durante os 3 meses que ficavam. Foram um total 750 estudantes que vieram através da Associação Nipo-Brasileira de Intercâmbio (ブラジル日本交流協会) durante os anos de 1981 à 2005.

            Claro que a escala de valores que minha família recebeu, nem se compara, mas era uma forma de eu retribuir ao Japão cuidando desses estudantes.

            Desses 30, ainda tenho contato com metade e a outra metade, infelizmente perdi o contato. Inclusive na cerimônia, compareceram 4-5 estudantes daquela época. Mas, tenho orgulho de dizer que desses estudantes, alguns se destacaram em suas áreas, concluindo suas pós graduações, se tornando professores universitários.

Kyodai: O senhor é sempre muito ativo e dinâmico. Qual são seus planos para o futuro?

 Ninomiya:      Que isso! Aos poucos estou perdendo esta energia. (risos) Gostaria de trabalhar até o final da minha vida, mas não sei até quando meu corpo irá aguentar. Mesmo me aposentando, sempre irá ter algum trabalho que devo querer fazer. Porém, a gente sabe que não terá muitos anos pela frente, mesmo que a memória e o corpo na seja a mesma coisa, manter-se em atividade é uma coisa muito importante.

            Não que fui buscar uma fama, mas aconteceu de alguém observar minhas atividades e poder ter tido estas honrarias.

            Felizmente, posso dizer que não me arrependo de nada do que eu fiz ou deixei de fazer. Fiz tudo com muita dedicação e esforço fazendo algo que gosto de fazer, nunca olhando para qual condecoração ou premiação poderia ganhar. E creio que isso tudo, aos 70 anos, ambos os governos acabaram reconhecendo com estas indicações e condecorações.

 Kyodai: Um dos seus trabalhos também é criar uma nova geração de advogados.

 Ninomiya:      Isso também. Mas não estou fazendo nada de mais, somente uma criando uma fonte de aprendizado. Por exemplo, tem um diplomata na Embaixada do Brasil que nem lembrava, mas ele veio e me agradeceu pelos ensinamentos. Isso me deu uma grande alegria.

            Casos como esse, não é apenas 1-2 pessoas. Para um professor, é muito difícil lembrar de todos, mas os alunos com certeza se lembram do professor. E quando chega até nós dizendo palavras que fizemos diferença na vida deles, é de uma extrema alegria para mim.

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