A Câmara de Comércio Brasileira no Japão (CCBJ) envia regularmente boletim eletrônico aos associados.
Na edição de outubro, o artigo foi escrito Yuichi Hatayama, da empresa Hamaya. Ele escreveu sobre a relação do café com a imigração japonesa.
Em busca da essência do café brasileiro
Por Yuichi Hatayama,
Hamaya Co.,Ltd
Seminário “Brazil Coffee Experience” é realizado no Pavilhão do Brasil durante o Expo 2025 Osaka-Kansai
Em agosto de 2025, realizamos um seminário interativo focado no café brasileiro, como parte da programação do “Mês do Agronegócio Brasileiro”, no Pavilhão Brasil da Expo 2025 Osaka-Kansai.
O café não é apenas uma bebida, mas uma verdadeira “história” que nasce da terra, do clima e das ações humanas. E a ideia da minha palestra era trazer um pouco desse universo para o público e todos os envolvidos nesse seminário.
O Brasil se destaca como líder incontestável na indústria cafeeira, sendo responsável por cerca de 37% da produção global. Embora o território brasileiro seja 22 vezes maior que o do Japão, a cafeicultura não está presente em todo o país. O cultivo do café no Brasil se limita a algumas regiões específicas que apresentam condições adequadas. Mesmo assim, essas áreas abrangem uma extensão equivalente a todo o arquipélago japonês, o que mostra a grandiosidade incomparável da cafeicultura brasileira.
Além disso, as áreas produtoras de café no Brasil não estão localizadas nas regiões atravessadas pela linha do equador, mas sim em zonas com clima mais ameno do hemisfério sul, caracterizadas pelas estações chuvosa e seca bem definidas, proporcionando condições ideais para o cultivo do café. Diferente das regiões montanhosas íngremes da América Central, essas áreas no Brasil têm relevo predominantemente plano, o que favoreceu a formação de grandes fazendas e um modelo de colheita peculiar. Mas existe diversidade de estilo de produção em cada região. Enquanto alguns produtores utilizam máquinas de grande porte para realizar colheitas em larga escala, outros ainda colhem manualmente, cereja por cereja. São esses fatores que contribuem para tornar o café brasileiro bem característico, com sabor suave e equilibrado.
Na palestra, fiz questão de lembrar que o café é, antes de tudo, um fruto. As sementes retiradas das cerejas maduras se transformam em grãos verdes após o processo de secagem. Basicamente, existem duas formas de beneficiamento: natural (via seca) e lavado (via úmida). Cada método resulta em grande diferença de perfil de sabor. O natural ressalta doçura e notas frutadas, enquanto o lavado proporciona um sabor límpido e refrescante. A partir desses métodos básicos, novas técnicas têm surgido tanto no Brasil quanto em outros países produtores, ampliando ainda mais a diversidade de sabores.
Depois, os grãos passam por um processo chamado torrefação (ou torra), o que gera o aroma e sabor característicos do do café aos quais estamos habituados. A torra clara enfatiza acidez e notas frutadas, enquanto a torra escura realça amargor e notas tostadas de nozes e chocolate. Ou seja, os mesmos grãos podem ganhar perfis completamente diferentes conforme o grau de torrefação.
As palestras sobre café costumam focar mais nos procedimentos feitos em países consumidores, como torra ou extração, mas desta vez fiz questão de destacar a etapa anterior – o cultivo e o beneficiamento nas terras produtoras, tendo como o tema principal o Brasil, que é o líder mundial da cafeicultura. O ano de 2025 marca também o 130º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Brasil e Japão. Por isso, espero que o evento tenha proporcionado uma oportunidade de relembrar os laços históricos entre os dois países através do café.
Na degustação, os participantes puderam experimentar diferentes categorias de café brasileiro e cafés oriundos de algumas fazendas específicas, cada qual com sabor marcante. Desde perfis clássicos, com sabor suave e notas de castanhas, até cafés produzidos com novos métodos de processamento que apresentam notas mais frutadas. Recebemos muitos comentários dos participantes que disseram, por exemplo,“o seminário mudou a minha percepção sobre o café”, “fiquei surpreso com a riqueza do café brasileiro”.
Por trás de uma xícara de café, há um conjunto complexo de fatores que abrangem desde terras imensas, clima, técnicas de cultivo e, sobretudo, a engenhosidade e a paixão dos produtores. Desejo que esta palestra tenha servido para que o café do dia a dia de cada um de você se torne a porta de entrada de um momento mais rico e prazeroso.
Café torna seu dia mais colorido e saboroso