Boletim CCBJ

A Câmara de Comércio Brasileira no Japão envia boletim eletrônico aos associados mensalmente.

Na edição de janeiro,  o artigo foi escrito pela professora universitária Erica Garcia-Muramoto. Ela relata sobre uma pesquisa feita a respeito de estudantes estrangeiros criados no Japão e que cursam o ensino superior no Japão, principalmente em Gunma.

 

Empoderando a Nova Geração:

Estudantes Estrangeiros Criados no Japão nas Universidades de Gunma

Por Erica Garcia-Muramoto

Professora efetiva na Jobu University

A diversidade cultural, linguística e a globalização vêm transformando o cenário educacional global, e o Japão não é uma exceção. Com a necessidade de trabalhadores estrangeiros para impulsionar a economia, o Japão alterou a Lei de Controle da Imigração em 1990, permitindo que descendentes de japoneses até a terceira geração, junto com seus cônjuges e filhos, trabalhassem no país.

Por esse motivo, muitas famílias estabeleceram-se no Japão. Porém, mesmo os filhos e netos desses trabalhadores, nascidos ou criados no país, não recebem a cidadania japonesa, pois o Japão adota o sistema de jus sanguinis, no qual a nacionalidade é transmitida apenas por ascendência. Entretanto, aqueles interessados podem requerer a cidadania desde que atendam aos requisitos legais estabelecidos.

Muitas famílias estrangeiras têm confiado cada vez mais nas instituições japonesas para a educação dos filhos. Consequentemente, os filhos e netos desses descendentes são classificados como “estudantes estrangeiros” nos levantamentos do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia (MEXT) do Japão, que divulga dados sobre esses alunos no ensino fundamental I (6 a 12 anos) e fundamental II (13 a 15 anos). No entanto, faltam informações sobre sua presença no ensino médio e, principalmente, no superior, dificultando a compreensão de seu progresso acadêmico.

Outras famílias optam por escolas étnicas, como as brasileiras no Japão, instituições particulares reconhecidas pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) do Brasil para a educação de brasileiros no exterior. Embora não tenham equivalência oficial às instituições japonesas, o MEXT apoia esses estabelecimentos para melhorar o ambiente educacional e as condições de gestão, classificando-os como “escolas miscellaneous” no Japão. Essas escolas seguem currículos alinhados ao sistema educacional de seus países de origem, permitindo que os alunos continuem seus estudos em caso de retorno. Em maio de 2011, havia 127 escolas estrangeiras, incluindo brasileiras, internacionais, coreanas, francesas e alemãs, autorizadas como “escolas miscellaneous” no Japão.

Atualmente, a Agência de Serviços de Imigração do Japão e o Ministério da Justiça mantêm dados sobre estudantes internacionais que frequentam universidades japonesas sob vistos de estudante, mas não rastreiam o número desses estudantes estrangeiros residentes, ou seja, aqueles que cresceram no Japão. Apenas um estudo semelhante foi realizado na província de Shizuoka no passado.

Um estudo, conduzido por mim e três outros pesquisadores, investigou a presença desses alunos matriculados nas universidades da província de Gunma, onde o número de trabalhadores estrangeiros cresceu significativamente desde a década de 1990. Em dezembro de 2023, havia 72.315 estrangeiros provenientes de 115 países e regiões diferentes, representando 3,8% da população total. Os brasileiros estão na segunda posição, com 13.063 residentes.

O nosso estudo envolveu 14 universidades em Gunma, das quais 12 participaram. No ano fiscal de 2022-2023, entre os 19.053 alunos matriculados, 94 eram estrangeiros nascidos ou criados no Japão, representando 11 países/regiões diferentes. Entre eles, a China lidera com 29 alunos, seguida por 21 do Brasil, 15 do Peru, 14 das Filipinas, 6 da Coreia, 4 da Bolívia, 4 do Paquistão, 3 do Vietnã, 2 de Taiwan, 2 da Tailândia e 1 de Bangladesh.

Em relação à origem escolar, 45 estudantes vieram do ensino médio público e 14 do ensino privado japonês, 5 de escolas étnicas e 8 de outras formações. Duas universidades optaram por não divulgar esses dados. Embora haja diversidade das formações no ensino médio, a maioria dos alunos recorreu ao sistema educacional japonês em sua trajetória acadêmica.

Outra observação significativa extraída da pesquisa é a preferência dos estudantes por certas disciplinas: ciências sociais, com 40 alunos, apresentaram a maior concentração, seguidas pelas áreas de humanas, com 24 estudantes. As ciências da saúde e naturais atraíram 10 alunos cada. Outras áreas, como engenharia, registraram números menores, refletindo menor representação desses estudantes.

Com o possível aumento de trabalhadores estrangeiros no Japão após a pandemia, espera-se que mais crianças e jovens ingressem no sistema educacional do país. Assim, monitorar a matrícula em todos os ciclos e garantir suporte a esses alunos é essencial, considerando os desafios de profissionalização e as desigualdades de oportunidade no mercado de trabalho para quem não concluir os estudos.

Por fim, dois pontos principais emergem deste estudo: primeiro, as famílias estrangeiras têm investido cada vez mais na educação, e as universidades no Japão têm acolhido estudantes interessados em se desenvolver academicamente, um passo essencial para promover uma sociedade inclusiva e justa. Segundo, dados objetivos como os apresentados neste estudo são fundamentais para compreender a trajetória de estudantes trazidos ao Japão na infância ou nascidos no país sem cidadania japonesa, mas que, em poucos anos, estarão inseridos no mercado de trabalho, seja no Japão ou no exterior.

Mesmo avanços modestos em estudos desse tipo têm um impacto significativo ao longo do tempo, pois revelam dados que poderiam permanecer superficialmente conhecidos — ou sequer reconhecidos — caso não fossem coletados e apresentados a comunidade estrangeira, educadores e legisladores.

Este estudo será revisitado em quatro anos para uma análise longitudinal dos dados. Quais ações concretas você acredita que podem ser implementadas hoje para assegurar a todos oportunidades educacionais e profissionais mais equitativas no futuro? Sua opinião é muito bem-vinda!

Autora:

Erica é doutora pela Universidade Waseda em educação internacional, cultura e comunicação e atua como professora efetiva na Jobu University. Além da docência e pesquisa, dedica-se ao empoderamento de jovens e compartilha suas experiências na criação dos filhos no Japão, auxiliando outras famílias em suas jornadas educacionais em um ambiente culturalmente diverso.

Observações :

  1. As referências foram omitidas por questões de espaço, e outros aspectos não abordados neste texto também foram analisados na pesquisa. Peço, por gentileza, que pessoas, instituições ou organizações interessadas em saber mais sobre o estudo ou replicá-lo em suas províncias entrem em contato.

  1. Esse estudo recebeu uma bolsa de pesquisa especial do Mitsumata Memorial Fund no ano fiscal de 2022.
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