A CCBJ envia boletim eletrônico aos associados regularmente. Na edição de janeiro, o artigo foi escrito pela proprietária da loja Coloridas, Yasuko Yamamoto (foto). Ela explicou o trabalho com acessórios brasileiros feitos com capim dourado e que estão cativando cada vez mais os japoneses.
A loja Coloridas fica em Kamakura.
Apresentando o artesanato sustentável brasileiro para japoneses
Yasuko Yamamoto
Proprietária da Coloridas
Olá, sou Yasuko, da loja Coloridas, uma empresa que trabalha com artesanatos, arte popular e moda do Brasil. Antes, mantínhamos uma loja com ateliê nas proximidades da Embaixada do Brasil em Tóquio, contando com a colaboração dos clientes da capital japonesa e também do pessoal da embaixada. Há quatro anos, decidi transferir a loja para Kamakura, por considerar que os artesanatos brasileiros caracterizados pela espontaneidade combinariam melhor com essa cidade que possui mais belezas naturais. Desde então, trabalhamos para criar uma loja de produtos brasileiros que contribua para a divulgação da cultura brasileira.
Atraído pela alegria e senso estético do Brasil
Na época em que eu era estudante de espanhol, comecei a me interessar pelo Brasil através da amizade com brasileiros que conheci no Japão. Depois que me formei, trabalhava numa agência brasileira de viagens, mas a empresa fechou e me deu uma passagem aérea da Varig como uma espécie de indenização por demissão. Fui ao Brasil com essa passagem, e fiz o curso de português para estrangeiros na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde fiquei seis meses, vivendo em uma casa de família. Naquela época, não havia telefones celulares no Brasil e a internet não estava amplamente disponível. O medo era grande, mas a curiosidade e a coragem eram maiores e me serviam como forças motrizes.
No Brasil, a cultura local me parecia algo único, diferente dos outros países latino-americanos que já conhecia, talvez por causa da forte influência africana na diversidade cultural brasileira. Além da alegria do povo, também fiquei impressionada com muitos artesanatos e artes populares que eram repletos de bom gosto, assim como a música.
Após retornar ao Japão, trabalhei em uma agência de viagens especializada na América do Sul e em uma importadora de alimentos. Por motivos familiares, porém, tive que deixar o trabalho e meus contatos com o Brasil ficaram escassos.
Mas continuei com vontade de fazer algum trabalho para manter contato com brasileiros. Ao me lembrar dos artesanatos feitos de capim dourado, que havia visto em fotos, comecei a procurar informações a respeito consultando vários revendedores no Brasil, em 2009.
Na época em que fui ao Brasil pela primeira vez, há cerca de 25 anos, não eram comercializados artesanatos de capim dourado em São Paulo nem no Rio de Janeiro, e nunca os tinha visto com os meus próprios olhos. Quando os vi pela primeira vez, ao receber os produtos encomendados que chegaram do Brasil, fiquei encantada com o brilho dourado dessa planta.
Após pesquisar sobre o capim dourado, aumentou ainda mais meu interesse por artesanatos feitos dessa planta, não apenas por seu brilho, mas também pela história e pelo fato de serem sustentáveis, além de ajudar a preservar os ciclos da natureza e o trabalho dos artesãos locais.
Dessa forma, minha vontade de divulgar esse artesanato no Japão de forma adequada, incluindo sua história, foi crescendo e passei a procurar exportadores de Tocantins, onde o capim dourado cresce de forma nativa. Por meio dessa busca, descobri o blog simples de Jovita, que apresentava o trabalho dos moradores da comunidade e entrei em contato com ela. Desde então, a nossa parceria já dura mais de 14 anos.
O artesanato mais sustentável
O Parque Estadual do Jalapão, situado em meio ao cerrado no Estado do Tocantins, é uma reserva natural com 1.600 quilômetros quadrados, que abriga campos úmidos com águas cristalinas onde o capim dourado cresce de forma nativa.
O período de colheita dessa planta dura apenas dois meses por ano. Cada talo é colhido manualmente e as flores com sementes são deixadas sobre o solo para que elas possam brotar no próximo ano. O capim dourado só pode ser colhido por artesãos registrados para ser transformado em artesanatos. É proibida a venda das matérias-primas em seu estado original. Para evitar a compra de materiais colhidos clandestinamente pelos forasteiros, negociamos diretamente com os artesãos locais.
Costumo viajar para várias regiões do Brasil para encontrar artesãos e faço pedidos diretamente com os profissionais após conhecê-los pessoalmente. Na Coloridas em Kamakura, comercializamos também itens de arte popular, como xilogravuras e figuras de barro de Pernambuco, rendas nordestinas tricotadas à mão e animais esculpidos em madeira pelos indígenas.
Umas das nossas missões é desenvolver produtos que possam ser facilmente incorporados ao estilo de vida japonês. Embora façamos questão de mostrar as habilidades dos artesãos locais em nossos acessórios feitos de capim dourado, o desenvolvimento do design e o acabamento são feitos no Japão, para tentar valorizar a marca Biojóias.
No ano passado, desenvolvemos um projeto em parceria com o Café Vivement Dimanche de Kamakura, contando com o apoio do Cerrado Coffee, para lançar 19 obras em xilogravuras intituladas “Café”, produzidas a nosso pedido especialmente para o Japão pelos artistas Jota Borges e seu sucessor Pablo Borges, ambos reconhecidos como patrimônio cultural imaterial de Pernambuco. Em março, lançamos uma nova linha de roupas de linho, incorporando as rendas pernambucanas tricotadas manualmente.
Além disso, na nossa loja em Kamakura, organizamos mensalmente ensaios de samba, convidando percussionistas e dançarinos brasileiros, além de eventos de música e arte.
Gostaríamos de levar a energia brasileira para mais clientes para fazer dela uma essência da vida cotidiana.